Ela sorri, tenta fazê-lo com naturalidade. Mostra ao "mundo" que afinal é feliz e o "mundo", que a rodeia, diz-lhe isso mesmo, que tem tudo para o ser.
Acha que é valorizada o suficiente... e assim se acomoda ao final do dia, depois de mais uma jornada de trabalho, nas vulgares lides da casa.
Quando o marido chega já tem tudo na mesa, senta-se e é só servir-lhe a comida acabada de fazer. Depois ele volta a sair. "Talvez" vá ao café como sempre foi hábito fazê-lo. Pensava ela!
Muito mais tarde ele volta a entrar com os cheiros usados no corpo, para não dizer fétidos dos sítios por onde passou toda uma noite.
Ela dormia, cansada.
Deita-se ao seu lado sem uma palavra de carinho, afecto... apenas com o intuito de mais uma vez "servir-se e ser servido".
Rui Veloso, um Sr. da musica portuguesa, consegue numa canção incluir o toque de quem se sente "objecto" e com uma decisão que estava escondida, ou talvez guardada nos recônditos dum belo Ser, passou a ser a maior pessoa do mundo.
Velhinho este som, mas é o quadro pintalgado de tantas mulheres nesta Terra!
Para muitos esta é uma das melhores musicas "do" Rui, mas também uma das mais lindas letras.
Saiu para a rua
Saiu decidida para a rua
Com a carteira castanha
E o saia-casaco escuro
Tantos anos tantas noites
Sem sequer uma loucura
Ele saiu sem dizer nada
Talvez fosse ao teatro chino
Vai regressar de madrugada
E acordá-la cheio de vinho
Tantos anos tantas noites
Sem nunca sentir a paixão
Foram já as bodas de prata
Comemoradas em solidão
Pôs um pouco de baton
E um leve toque de pintura
Tirou do cabelo o travessão
E devolveu ao rosto a candura
Saiu para a rua insegura
Vagueou sem direcção
Sorriu a um homem com tremura
E sentiu escorrer do coração
A humidade quente da loucura
(Carlos Tê/ Rui Veloso)
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