domingo, 15 de novembro de 2009

Histórias da Geia - O ultimo pensamento.









Os olhos começavam a perder o brilho.
Nas masmorras tinham sido esquecidos durante gerações e gerações. Nos antigos terrenos de Thórbiorn foram vários os reis que caíram e mandaram... sem saberem que nos seus calabouços existiam oito celas esquecidas no tempo.
A pequena guilhotina junto ao chão, na porta de madeira suja e riscada por outros que por lá passaram antes, era o único contacto que tinham com o mundo exterior. A malga entrava com água e o prato de metal com aquela imunda papa e um pouco de pão por vezes duro.
Foi assim durante... muitos e muitos anos.
Faziam quase duas vezes a altura de um homem. As suas pernas cobertas de escamas, barbas longas, olhares profundamente coloridos e com uma força inigualável os Gog Magog perdiam a imunidade fora das terras de Anuros.
Antes de fazer parte do exército de Rasjasthan, o hoje Ariton assim como os outros sete, formavam um pequeno exército. Passavam-se meses que não viam as planícies verdejantes onde corriam fios de água límpida e fresca e onde havia pequenos lagos de água quente onde os gigantes se banhavam.
Ora no final de um dia, junto das fronteiras de Anuros, os oito depararam-se com uma vintena de homens caídos por terra. Sabiam que eles existiam de histórias remotas, mas era a primeira vez que viam homens naquelas paragens.
Estranharam a presença de tais figuras por aquelas bandas.
No cimo duma colina, o hoje negro Ariton, gritou “Amaldiçoados sejam!!”. Todos os outros correram para ele.
No outro lado da colina alguns dos seus filhos jaziam por terra, assim como algumas das suas mulheres.
Podiam ser grandes de estrutura ou meter medo até à maior das figuras que pisavam a Geia, mas era maior o amor ao que era seu, os seus filhos... as suas mulheres.
Enquanto brincavam nas colinas de Anuros um batalhão de homens atacou os pupilos e algumas das mulheres, entre elas Anfitrite. Deceparam-lhes membros com o intuito de não mais sobreviverem, depois fugiram.
Mas os oito das planícies não mais voltaram a Anuros.
Seguiram para lá das montanhas anos a fio.
A bondade que tinham deu lugar à malvadez, o tempo que passaram a procurar o acto de mortandade contra os seus filhos e mulheres fez-lhes sede de matar... de vingança.
Cavalgaram montes e vales e aniquilavam tudo o que lhes aparecesse no caminho.
Até que encontraram o que tanto queriam,o pequeno reino do homem. Os poucos Obours que tentavam penetrar as suas linhas facilmente foram aniquilados pelos gigantes.
E assim os gigantes entraram. E todos os homens, mulheres e crianças que cruzavam os seus caminhos eram mortos nas piores das formas. Nada escapava.
Rasjasthan, o asqueroso, sabia o que se estava a passar e deixou que o seu plano decorresse como o planeado.
Passou-se pouco mais de um ano escondidos nas terras do homem, a emboscar, a queimar pequenas aldeias... a matar. Até que o homem tomou precauções.
Ora os homens souberam que os gigantes perdiam os poderes fora das suas terras e uma vez feridos cairiam por terra como qualquer outra criatura.
Numa noite, três batalhões de homens cercaram o lugar onde os sete descansavam. Foram arremessadas redes sobre cada um dos gigantes antes que estes acordassem, limitar-lhes-ia os movimentos e o rei queria apanhá-los vivos.
Foram precisos mais de quarenta homens para cada um dos gigantes e para parar a força de cada um dos Gog Magog. Mesmo assim houve baixas da parte dos Thórn.
Foram julgados, acorrentados e levados para as masmorras onde iriam passar o resto dos seus dias.
O tempo continuou a passar e numa das noites, o próprio Rasjasthan, com as suas artimanhas conseguiu entrar nas prisões onde estavam os oito esquecidos.
Aí tentou-os. Ainda assim Ariton opôs-se a tal proposta, mas do outro lado conseguiu ouvir os outros sete a serem comprados pelo lado das trevas.
Rasjasthan uma vez mais voltou atrás e do lado de fora da porta voltou a propor ao gigante: “Preferes continuar o resto da tua vida de mortal enclausurado nessas quatro paredes e esquecido, ou preferes ser comandante de bravos exércitos como aquele que tenho para ti... para que possas continuar a aniquilar estes... estes homens que te traíram e vida eterna?”
Ariton pediu um momento para pensar antes de dar uma resposta. Queria apenas recordar uma vez mais as grandes planícies verdes de Anuros onde corriam fios de água, dos pupilos que brincavam desde o raiar do sol até este se pôr. Dos grandes Unicórnios que se alimentavam nos pomares de fruta, mas havia um brilho que se queria recordar pela ultima vez, o brilho do olhar de Anfitrite.
O tempo passou... esqueceu-os para uma vida eterna.

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