sábado, 5 de dezembro de 2009

Histórias da Geia - "Cantos e encantos."




Os Gog Magog podiam viver a maior parte das suas vidas no mar, a navegar.
Não importava o tamanho que o mar tinha, houvesse ondas grandes ou pequenas, os Gog Magog na água sentiam-se como uma minhoca na terra.
De volta às planícies de Anuros, depois de quase quatro dezenas de dias no mar a pescar, Adamastor gostava de ver o sol tocar a linha que separa as águas do céu, desta vez de terra firme.
Para ele, aquele momento era mágico.
As cores laranja misturadas com tons de vermelho naquela altura do dia ganhavam ao azul que comandara quase toda a jornada.
Mas não era só por isso que estava ali.
O gigante gostava de se sentar no enorme rochedo que jazia fora de água numa das centenas de pequenas praias de Anuros. Abstraía-se de tudo e de todos os que estavam nas planícies.
Muitos deviam conhecer aquele lugar, aquela enorme rocha, mas só ele sabia o segredo que ela escondia.
Do cinto largo de pele tirou a espada, manejava-a com destreza, mas agora dava-lhe descanso. Pousou-a no chão.
Dobrou as pernas escamadas e sentou-se na rocha ainda quente pelo sol. Reconhecia perfeitamente aquele cheiro e sabor. As finíssimas gotas da maresia tocavam-lhe a face, enchiam-lhe o nariz... deixavam-lhe um fino gosto a sal.
Olhou para baixo, para o mar calmo e avistou-as. Moviam o corpo entre as ondas calmas no final do dia.
Adamastor sentia que outrora os Grandes se sentiram atraídos por elas e que é por isso que ele hoje é assim, meio gigante... meio peixe assim como todos os outros Gog Magog.
Num pano trazia embrulhada uma peça de madeira, oca e perfeitamente perfurada, uma flauta. Passaram-se séculos desde que o ultimo gigante soube tocar tal instrumento com sons semelhantes. Era um dos oito que desaparecera após a mortandade de pupilos e mulheres.
Voltou a olhar para o mar límpido, conseguia ver o fundo de areia.
Os cabelos negros pendiam-lhe para os olhos agora cerrados. Deu um ligeiro sorriso e levou a flauta à boca. O som que saía da peça era fascinante, encantador... mágico.
Lá em baixo, entre as ondas, as Melusinas que tinham a fama de fazer naufragar barcos com os seus cantos deliciavam-se com tamanha melodia.
Mas Adamastor tocava para ouvir... ouvir o canto único daqueles seres; que respondiam com sons dóceis à flauta do gigante. Pareciam chamá-lo para o mar ou talvez pedir para dali saírem. Para ele aquele momento fazia-o recordar um talvez "amor interdito".



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