domingo, 11 de outubro de 2009

Histórias da Geia - "Toquei-lhe com os pés!"



Nos vales circundantes do Lago dos Nenufarões, nas terras de Orionídeas, a pequena princesa passava os dias a brincar.
Os enormes bosques, verdes por natureza e durante todo o ano, eram o local privilegiado pela pequena.
As aias que passavam os dias a seu lado, tentavam a todo custo satisfazer os pedidos da pupila. A esperança dos Orion estava também depositada naquela criança. Viria concerteza a ser uma raínha, mas até lá os conhecimentos dos mais velhos, sábios, descendentes do grande Orionídeas, lhes seriam passados para que o povo que vive perto dos dois centos de anos, tenha quem os guie nas horas mais difíceis. A pequena Celeno, como todos os Orion enquanto pequenos, tinha cabelo ruivo e só ganharia a cor vermelho quando adulta.
Celeno gostava de brincar num baloiço. Dizia que um dia tocaria as nuvens com os pés de tão alto que o baloiço a enviava. As aias sorriam entre elas e até mesmo os guardas riam com a tamanha imaginação da pequena.
Três anos passaram e a pequena Celeno, numa das quentes noites nas terras do lago, fez ao seu pai um pedido. Que lhe construísse um balouço que atravessasse o vale dum cume ao outro.
Caliope o rei, com sabedoria e calma sorriu para a pequena de olhos verdes profundos e explicou-lhe que não era fácil satisfazer o seu pedido.
Celeno saiu com os olhos molhados. Era o seu maior sonho, tocar as nuvens com o balançar do baloiço.
A pequena Celeno cresceu. Era exímia a face de tonalidade clara e salpicada por pequenas sardas. Agora, já os seus cabelos se vestiam de vermelho.
O rei já lhe tinha dado algum poder para governar. Nas terras sagradas do Lago dos Nenufarões Celeno já tomava decisões sem perguntar ao pai, este mantinha toda a confiança na sua filha, assim como o seu povo.
Para breve as monções abatiam-se sobre as terras de Orionídeas. Com intervalos de sete anos, três a cinco dias de chuvas tépidas acompanhadas por ventos fortes varriam todo o vale na direcção sul.
Celeno contou ao pai quais a suas intenções, iria necessitar de todos os homens livres pois a sua obra teria que ser construída rapidamente. Era escasso o tempo.
Caliope olhou bem fundo os olhos de Celeno, os seus olhos verdes conferiam-lhe determinação.
Mesmo assim o rei tentou fazê-la mudar de ideias. "Iria perder credibilidade perante o povo e por um 'sonho de criança' inatingível", argumentou.
Ora todos os homens foram chamados e o abate de árvores começou por ser feito. Todos estavam descrentes e ainda não sabiam para que queria ela tamanha artimanha, mas as ordens eram superiores.
De um lado do vale, no seu cume, um aglomerado de madeira começava a ganhar forma. Troncos entrelaçados, dispostos de maneira a que se mantivessem unidos e de pé conferiam uma ponte. Do outro lado um segundo grupo fazia o mesmo.
O tempo passou rápido e as monções aproximavam-se.
Os dois cumes estavam agora unidos e Celeno tinha a oportunidade de completar o seu sonho.
Umas da aias, aquela que sempre prestou mais atenção à pequena Celeno, ao ver a obra terminada disse-lhe "Desde que o sr. Seu pai lhe negou este sonho, que as noites da menina foram tudo... menos tranquilas. Recordo-me de vê-la acordar a olhar o céu numa esperança única e hoje vejo que daqui em diante essa esperança será alcançada, pelo menos tentará! A pequena Celeno dormirá melhor!" Nas mãos da aia um balouço, igual áquele em que brincava quando era pequena, pousava com flores coloridas. Atrás de si uma quarentena de homens segurava enormes cordas que iriam ser atadas nas pontas, pendendo até bem ao fundo do vale, a meio da construção de madeira.
A princesa, de cabelos vermelhos, olhou a aia, sorriu e dirigiram-se para o vale.
Celeno sentou-se no baloiço. O céu estava limpo e a lua cheia iluminava o vale. Todos esperavam pela ordem da princesa, mas ela ordenou-os que voltassem para casa.
A aia voltou para perto de Celeno e disse-lhe "Que ainda não haviam nuvens no céu".
Celena voltou a sorrir com delicadeza para a preocupação da aia. Sussurrou-lhe ao ouvido. Depois falou em voz alta para todo povo "Agradeço-vos, mas hoje não necessito que me baloicem como sempre fizeram enquanto pequena. O vento ameno e forte encarregar-se-há de fazê-lo. Vinde alguém ao princípio da manhã! Agora ide!"
Todos voltaram para as suas casas.
Celeno olhava o céu e começou por sentir o vento, ainda fraco, a tocar-lhe as costas. O baloiço começou a mover-se, ora para diante ora para trás. Depois mais forte, a princesa atou as mãos, uma a cada corda para que não caísse. O vento continuou mais forte, o baloiço ganhava altura, depois ainda mais forte.
Celeno conseguia ver o fundo do vale, onde jazia o Lago dos Nenufarões. Sentia-se leve como quando brincava quando era pequena, baloiçada pelas mãos finas das aias.
Naquela noite não choveu como previsto, mas soprou um vento forte, poder-se-ia dizer também que foi afável.
Na manhã seguinte os ventos acalmaram.
O rei e a aia voltaram com uma comitiva de guardas ao vale onde estava o baloiço. Celeno estava exausta, adormecera ainda atada às grandes cordas que a suportavam. Pegaram-lhe com delicadeza.
Ao passarem na rua, o povo olhava-a incrédulo. Como era possível uma futura rainha governar o seu povo com tais atitudes?
A noite caíra e Celeno continuava nos aposentos, acompanhada das suas aias. A princesa, com um gesto, chamou a aia que a acompanhou de perto desde sempre. Esta baixou-se perto de Celeno para a escutar melhor. Disse-lhe "Recordas-te do sussurro de ontem?"
A aia olhou-a nos olhos, levantou-se e correu para a rua. Falou alto "Olhai! A lua tem duas marcas que antes desconhecia!", voltou para dentro a correr.
Celeno continuava calma, voltou a sorrir para a aia


"Eu disse-te... que o meu sonho estava maior...!!"


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