Gostaria de ter ouro,
gostaria de ter ouro às toneladas,
muito ouro, para pagar as minhas dividas.
para dar a quem já me deu.
Gostaria de ter ouro,
para ajudar quem já me ajudou.
Gostaria de ter ouro,
para poder mandar quem mandou em mim.
Gostaria de ter ouro,
para ter saúde e ser imortal.
E no fim de ter ouro,
seria rude,
hipócrita,
egocêntrico,
seco,
onde via nos outros a face do meu cofre cheio...
Agora que o fim está próximo, levo tudo o que vocês não podem, agora, partilhar comigo,
o meu chorar, o meu sorrir, a minha dor, a minha alegria, os meus segredos, o brilho dos meus olhos,
e sendo pobre,
para trás deixo a saudade do teu chorar, do teu sorrir, do brilho dos teus olhos...
dos verdes campos que tanto corremos juntos,
da chuvadas que secámos nos ombros quando não tínhamos chapéu,
daquelas taças de bebida que partilhámos juntos,
daquela mão que me ajudou quando tive dificuldade em me erguer.
Agora morri, convosco tudo fica, mas tudo levo comigo.
Pedro Libânio


